18 de abril de 2008

adeus

Saíste. Bateste a porta de mansinho e sinto que não vais entrar outra vez. Junto levaste o meu coração rodeado de juncos melados, e o preto das lágrimas que saltaram quando as palavras do fim apareceram. É assim que sabemos quando acaba: quando queremos que tudo comece de novo.

NEGAÇÃO Não. Não aceito que vás embora. Aquela conversa não fez sentido. Dizes-me que não há mais chama? Como podes dizer isso quando toda eu sou fogo que te quero dar. Não quero que tudo acabe. Podia viver só contigo e sem tudo o resto. Não quero que partas para sempre. Ligo-te, mas não me atendes. Chamo-te, mas não me respondes. Ouço-te em toda a parte. Vejo-te em todo o lado. Todos me perguntam por ti agora que não sei por onde andas. Todos são tu, todos usam o teu perfume, têm o teu casaco castanho, compram as mesmas chicletes de pêssego que tu; todos têm as tuas mãos pálidas e sempre mornas, todos são do Sporting, todos gostam de natas, todos gostam das mesmas marcas que tu conheces e me falavas, todos vêm tomar o seu café comigo e me fazem rir da mesma forma que tu fazias. Todos sabem ouvir e falar da mesma maneira que tu ouves e falas, com esse encantamento que te rodeia. O teu nome espalhou-se pela cidade, e todos trazem consigo um pedaço que me lembra de ti. Sinto a tua falta. Quero-te. Quero-te outra vez. Não aceito que te vás. Tenho tanto no vazio aparente das mãos, e foste embora sem ver o mundo que te queria mostrar.

RAIVA Não me olhas? Não me falas? Não entendo tudo isto. Não me mereces. Ou eu a ti. Quero esquecer-te, e ao mágico que fomos juntos. Quero esquecer as noites na praia, o calor dos teus olhos, os chocolates e as promessas de infinito. Não quero mais isto. É dor a mais para quem prometeu dar-me felicidade eterna.

NEGOCIAÇÃO Volta para mim. Volta e será tudo diferente. Prometo. Vou incendiar o mundo com o que nos une. Não faltarão vidas que nos queiram levar. E não haverá coisa alguma que nos separe.

DEPRESSÃO É agora. Acabou! Quero morrer. Sem ti nada disto faz sentido. Prometeste-me uma vida. Tiraste-me tudo. Assim não quero. Assim não faz sentido. Volta. Volta, por favor. Fala-me! Quero tanto ser tua de novo. Ser um só contigo. Custa-me tanto.

ACEITAÇÃO Assim são os nossos erros: vermelhos e brilhantes. Vivos como andorinhas! Sempre a chilrear, para nos lembrarem que não morreram, mesmo que as saudades do nosso tempo pintem os meus sonhos. Hoje acordei e tinha sonhado contigo de novo. Tem sido assim todos os dias, ultimamente. Quando mais espero ver-me livre das tuas mãos a segurarem a minha cintura, mais depressa me apareces de noite, tal príncipe das trevas, com encantamentos que desconheço, e me assombras e ao meu sono, esperando as moedas do que sobrou dar-te. Espera. Não conto devolver-te o que falta. Quero ter comigo o que não te dei. Segurar-me a isso, e imaginar até à minha demência o que desejei ter sido contigo. Um dia vais voltar, parece que sei. Vais voltar de mãos abertas e com esse sorriso. E essas palavras de quem conhece a alma de uma rapariga. Eu vou olhar para ti com indiferença, pois já não te amarei loucamente nessa altura. Vou segurar-te uma mão, indicar-te o caminho e, quem sabe, voltar-te as costas, pois só aí saberei o que me ensinaste errado sobre o amor.

6 comentários:

mac disse...

Correste todas as fases por que passa o desamor,essas fases comuns a toda a gente, e em que o discurso é esse que focaste.Custa muito, este processo de desamor e custa olhar as promessas não cumpridas e os caminhos que ficaram por percorrer...Mas o tempo tudo cura não é?

Lord of Erewhon disse...

A tua escrita tem sempre em mim um efeito de vórtice para dentro; espanto e júbilo, sofrimento e cumplicidade sábia.

Tu és uma grande escritora, já madura prematuramente.

Vivemos num país de cretinos, onde a cultura, a literatura e sua divulgação não passa de um cheirar de cus à mesa de certos cafés, etc.
Tu já deverias estar publicada, és melhor que a maioria dos patetas convencidos da tua geração, que não escrevem a ponta de um corno!

Dark kiss.
P. S. Lê a «Carta do Vidente» de Rimbaud - vou parecer sádico, mas: abençoados todos os desgostos de amor, todos os sofrimentos!

E tem calmita... ;)

Anónimo disse...

E o castelo de castelo de cartas caiu, sem solução, foi ai chão...

E quantas lembranças essas suas palavras trazem...Quem nunca passou por isso, fica fácil nos encontrar em cada opção, relembrar de dias assim...

Lindo lindo lindo.

No mais, estou completamente de acordo com Lord of Erewhon sobre ti.

Cuide-se.

:**

rafaela disse...

Mac, o amor é o que mais nos marca ao longo do tempo. Tem as suas coisas boas, que lembramos sempre, tem as coisas más, e tem sobretudo, as pessoas que encontramos, conhecemos, por quem nos apaixonamos, com quem partilhamos coisas, e com quem cortamos laços mais tarde. Amar e perder doem. Mas não deixo de acreditar em toda a beleza do amor. Nunca.

:)
beijinho

rafaela disse...

Lord, como poderei um dia ser grata o suficiente para contigo?

Ergues-me o ego, indefinidamente! :D

P.S.: ando a ler Jane Austen. Tenho uma imensa paixão por ela e pelas suas histórias de amor. Já pus Rimbaud na lista.

Eu sou calma. Pelo menos tenho dias... x)

beijito*

rafaela disse...

Bill, o meu castelo caiu, sim, mas sou menina forte o bastante para reconstrui-lo. E isso basta, não é? Todos devemos ser um castelo de cartas. Cair. Reerguer. É assim. É isto que é ser-se pessoa.

:)

beijinhos, senhor de além-mar*