bom dia

Ele chegou.

Aproximou-se dela, sem dizer uma palavra, segurou-lhe cara com ambas as mãos e a sua cabeça tombou na testa dela, como um segredo que se quer contar mas se escapa nos vazios secretos das masmorras que nos encerram em caminhos iluminados ao tempo. Os lábios de ambos tocaram-se ao de leve, a medo da melodia e dos contra-cantos, em sintonia com o grito do vento ao dançar com as falésias estéreis. Beijos híbridos foram trocados com o sabor de músicas transparentes a balouçarem-se nos candeeiros de rua, carinhos foram entregues sem culpa, e juras foram feitas sem que a eternidade viesse à boca. Ele pousou-a na cama, os lençóis brancos estavam à espera dele desde sempre, frescos como brisas encantadas em solstícios. Fizeram amor com a intensidade de um feitiço em poesia, descobriram segredos e toques, ilhas isoladas de desesperos e prazeres encontrados de novo, como madrugadas transpiradas dos corpos quentes dos deuses. Cerraram os olhos com a pressão de um cântico negro e brotaram no outro o suor físico e a magia da inocência reencontrada, aprisionaram os gritos de prazer e cada um mergulhou no seu universo de histórias e constelações, galáxias e planetas azuis. Adormeceram embalados nos batimentos dos corações de cada um, e cada qual, à sua maneira, sorriu para si e soube.

Ela acordou.

Ao seu lado uma rosa branca prendia os seus dedos pintados de novo, e um cheiro a café e a canela invadia os seus sentidos ainda adormecidos, lambendo as papilas e saciando os olhos brilhantes.

Um cartão dormia ao seu lado, bom dia...