10 de julho de 2006

sonho


Hoje vou ficar assim:
Vou deitar-me num banco de madeira velha pintada de verde junto à margem do rio, olhar o céu estrelado (o céu está bastante limpo, vejo as estrelas com facilidade), vou encostar-me a uma árvore antiga, inclinar a cabeça contra o tronco alto e ouvir os segredos e as histórias que ela tem para me contar. Vou abrir os olhos pequenos e brilhantes, olhar para a água espelhada do rio que continua a correr sereno aos meus pés, como se eu não o incomodasse com os meus delírios abstratos e pensamentos estranhos. Vou abrigar as minhas fontes de medo nos juncos que me escondem do vento cortante, vou entornar a minha mente nas poçinhas que se formaram à minha volta, vou imaginar pégasos, centauros e cavaleiros alados a chamar por mim, a estenderem-me as manápulas metálicas que me cobrem os dedos brancos e a levarem-me num passeio etéreo pelos campos verdes e frescos do orvalho que continua a cair, impávido ao meu sonho. Vou olhar para as estrelas que se reflectem na água como peixes fosforescentes, vou reparar nas árvores altas e inquietas no horizonte. Ele pousa-me com cuidado na terra húmida. Estou descalça e sinto os dedos a enterrarem-se no chão.
Molho os pés no rio que continua a correr suave, dou o resto do meu corpo níveo ao manto de água escura que me arrefece as mãos, e mergulho na imensidão de trevas que encontro. Entrego-me a ela, e fico assim, suspensa no escuro, procurando não me mexer, e flutuando como nunca o tinha feito...

Hoje vou ficar assim:
Vou esperar que a janela tenha ficado aberta, vou pensar em ti com um sorriso e ver o despertar da manhã com a brisa da aurora a ondear as minhas cortinas...

11 comentários:

Barão da Tróia II disse...

POst bonito. Boa semana

Cecilia M disse...

Adorei o teu texto... a água também me fascina e dá paz... obrigada pela tua vizita, gostei daqui e vou voltar!
Fica bem!
Beijo

Ana P. disse...

Vim aqui....
E hoje vou estender a minha mão, pode ser que alguém precise dela...
Beijinhos

Clarissa disse...

Rafaela... que palavras lindas e fortes deixaste lá pelos Instantes. gostei da tua visita por sentir a veracidade das tuas palavras, por serem tão sentidas.
Obrigada :)
E tu escreves com uma ponta de magia, como um bocadinho de sonho de criança misturada com uma alma doce e gentil.
Bonito :)
Um beijo grande, também eu voltarei.

Anónimo disse...

Encontrar-te, foi como possuir
Todos os azuis.
Como se tivesse um mar e um céu
Dentro de mim.

Encontrar-te, foi como possuir
Todas as cores, todas as flores.
Todas as luzes.
Foi como se o vento e as velas
Trouxessem a calma, a paz,
Que tanto bem fizeram
A minha alma.

Encontrar-te ...
Sentir a tua pele.
Teus doces beijos.
Hum!!. Foi bom!
Só tu sabes escutar
O meu ser.

Agora sonho, vou ao amor...
E no amor, sonho...
Embalo-me em teus braços,
Nos primeiros raios
De uma nova manhã.

Anónimo disse...

Muito giro

Anónimo disse...

Hoje quero ficar aqui olhando a lua cheia... Imaginando...

Perfeito, a querida Clarissa disse tudo.

:**

Pedro Duarte disse...

A partida do mundo dos arranha-céus e o regresso à Natureza.

Sim senhora, lindo texto.
Cheio de agradáveis sensações.

Lord of Erewhon disse...

Menina inteligente;)
Dark kiss.

Inês Diana disse...

Belos, os teus textos... lânguidas divagações da tua alma...
Vou voltar para te ler!! :)

Beijo

rafaela disse...

Inês diana,, obrigada pelas palavras e pela visita...
As divagações pela alma são sempre lânguidas e cheias de surpresa, até para nós mesmos...
Volta sempre, será um prazer...

um beijo fragmentado***