8 de agosto de 2008

liberdade


Como uma árvore, que cresce e cresce apontando o infinito, enfiando as suas raízes na garganta da Terra, que alimenta e protege, como uma sangrenta placenta gigante. Árvores crescem para o céu e para a terra. Dão flores, são belas. Dão frutos, são férteis.

São horas. Horas que passam ligeiras, como uma névoa ou um cometa. Doce e quente, como se fechadas nas palmas das mãos de alguém. Depois alguém corre, se afasta, alguém regressa, alguém morre, alguém se salva. E começa de novo. Como um relógio que, sem sair do seu eixo, afasta um passado. Pudesse eu atrasá-lo, ou recuar os ponteiros, e voltar atrás. Agarrar-me à arvore. E às horas.

Quero ser um pardal. Atrasar as horas, torná-las minhas, não precisar de agarrar-me aos pulsos, libertar o choro, cantar alto e espetar o peito num espeto.

Quero libertar-me. Das raízes e dos relógios.
Intemporal e sem origens. Vadia, sem rumo.

Sou um pardal.
Sorrio. Vou voar. Volto amanhã.

3 comentários:

Anónimo disse...

Poder parar o tempo, por vezes em um bater de asas poder voltar, encontrar aquele momento que nos faz vivo, nos faz fogo...
As vezes flutuamos, batemos asas fora o tempo, na lembrança mansa de olhares febris...
Queria eu, adormece nas horas e sonhos segundos minutos no cometa que teima e não parar (=

:*

L. disse...

Que saudades tinha, amiga, de te ler...

Mais, mergulhando nesta bela ironia que pintas em tons de mel.



Se eu for um colibri,
deixas-me voar contigo? ;)

Lord of Erewhon disse...

A mãe, a terra, a árvore: temas órficos eternos.

Beijinho.
P. S. Para quando um texto teu na NA?