a guitarra

O sopro voou, ruivo, em mi menor
poeira incolor dos meus olhos...

Repousou os beijos em ti, cheia a pena de pássaro bravo,
azul-violeta de vida murcha, sem tempo, com borboletas hermafroditas
as negras a violarem as bruxas de verde e o relógio digital a incomodar o som do velho tique-taque...

Vestido de vento rúbreo a escurecer as papilas mortas,

se sal, se timbre,

de ouvidos fechados ao sol que uiva lá fora

nas cordas penduradas, tempestades, soltavam-se os dedos de palha.

o velho J.B. - Mfavero

E a guitarra de sopro encostada ao mausoléu ficava pobre, sem os espessos acordes que soavam de restolho ao mar...

Encarpada na rocha o canto da sereia uiva
escura como lamparinas
encostando o ouvido à lapela velha
e vendo as melodias das cordas rebentadas a fluir
como salgadas águas lavando a pele
e deixando beijos de gota a poluir o rosto branco.

Ser-se ventre sem fluído é ser-se palavra sem rosto...

como verde é o mar azul que o céu reflecte...

Ouve-se sussurar... deve ser o vento a cair das árvores...